Nos nossos tours somos enfáticos ao dizer que toda lenda recifense é baseada em fatos verídicos. O tempo tem mostrado aos historiadores céticos que os contos advindos das antigas gerações do Recife sempre têm embasamento. Quando alguns historiadores tomavam a murada que cercava o Recife como lenda, eis que uma empresa de telefonia a descobre quando tentavam abrir valas para colocação de cabos subterrâneos. A mesma descrença de que realmente havia existido uma Sinagoga de grande tamanho da Rua do Bom jesus, era levantada por outros. Mas o tempo e golpes de sorte mostraram serem reais.
Pois bem, os antigos já diziam que o lugar Fora de Portas (Local no Bairro do Recife a partir da Torre Malakoff, intitulado assim por ser a parte além da porta que fechava aquela ilha), haviam cemitérios que já ficaram expostos com a maré revolta ou em temporadas de fortes chuvas. A área da Cruz do Patrão ficou famosa após relato da escritora Maria Graham ao Rei da Inglaterra de que seus súditos estavam sendo enterrados com descaso naquela área*.
Em 2013, por conta de escavações para implantação de prédios populares na Comunidade do Pilar, trabalhadores operários levaram um susto ao acharem esqueletos em um terreno há cerva de 150 metros do Forte do Brum. O que poderia ser apenas descarte humano de épocas remotas ou queima de arquivo em algum caso de crime, se tornou um achado.
Com a intervenção de arqueólogos da UFPE e da Fundação Seridó (contratado pela Prefeitura), foram descobertos 65 esqueletos que, após um trabalho formidável de estudos aprofundados pela arqueóloga Ilana Chaves, determinou-se que eram do sexo masculino, com idade entre 14 e 25 anos, média de 1,71 de altura e todos europeus do século XVII, logo chegou-se à conclusão de serem soldados da Companhia das Índias Ocidentais, empresa que trouxe os holandeses ao Recife. Lembrando que o exército da Companhia das Índias era composto de mercenários e soldados profissionais de todos os cantos da Europa. Após exames minuciosos constatou-se que todas as mortes eram derivadas de doenças, com predominância de escorbuto (falta de vitamina C), tal como contavam nas lendas.
Não se sabe, porque cargas d’água, o trabalho foi paralisado terminando em 2014. Um alegação ventilada é de que havia resquício de basificação de antigas casas por sobre áreas de interesse. Vê-se aí o descaso nosso com a história. Ao final, foram exumados 28 esqueletos e deixados ainda 37 esqueletos no local.
A área fica próxima do antigo Forte de São Jorge que arrasado pelo holandeses virou hospital de campanha, recebedor de doentes advindos de viagens marítimas da esquadra flamenca. Daí, talvez, a explicação de tantos mortos por doença ao redor das suas instalações. Por fim, com o fim de sua utilidade como hospital, virou a Igreja de Nossa senhora do Pilar em suas bases.
Nota do RMA: Fosse em qualquer lugar do mundo, já teria virado um ponto turístico com praça temática, ampla estrutura de recebimento, piso de vidro para observação e tudo o mais, contudo, Recife ainda é engatinhador no chamativo de turistas. Parece que nunca veremos algo a respeito por estas terras. Pena!
Por: Guardião dos Mortos
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