Foi no Pátio de Santa Cruz. Queríamos um lugar ali pro nosso tour.
Quando nos atrevemos a dar os primeiros passos rumo à muito suja escada de acesso de
um sobrado peculiar, um senhor Albino de baixa estatura, aparentando uns 70 e poucos anos chegou apressado até a nós: -Não façam isso. Não a incomodem. Ela tá bem assim.
Não entendemos nada. Um outro senhor, igualmente velho, se aproxima e diz com deboche:
-É a namoradinha dele que dava pra todo mundo. Foi defumada.
-Deixa ela em paz, Chico - gritou o Albino indo embora de cabeça baixa.
Achamos que era dessas brincadeiras de rua, saímos e atravessamos.
Foi uma senhora que estava na soleira da porta de uma das antigas casas que nos contou a história "Nos anos bons, década de 60, muito estudante alugava uns quartinhos pra estudar na faculdade de direito. Maioria do interior. Aí as mulheres da vida aproveitavam pra ganhar a grana dos abestalhados. Tinha uma muito linda, novinha que só, a Celinha, que era muito procurada. Um desses era aquele brancoso, o Gominha, que chegou aqui pra ser advogado, mas hoje é só isso aí. Tinha dinheiro muito. O pai mandava de Timbaúba , prato cheio pras raparigas. Então ele se apaixonou. Tambem, ela dava uma atenção arretada a ele. Ficava mais tempo que qualquer um. Eu via daqui.
Um dia um freguês deu pra ela umas bebidas que trouxe do estrangeiro lá no bar do marreco. Ela não se deu bem. Vomitou até desmaiar. Gominha é que levou ela pra casa.
Justo nesse dia a lojinha de baixo pegou fogo. Celinha tava lá em cima. O fogo nem subiu, mas ela Morreu com a fumaça. Nem se mexeu.
O pior começou a acontecer tempos depois. Estudantes e trabalhadores que passavam sozinhos de noite, viam uma mocinha ali, bem pertinho da portinha do sobrado. Eles diziam que ela chamava e eles seguiam. Só lá dentro viam que tudo estava abandonado há muito tempo. Alguns deles já desceram correndo e gritando. Gominha já tirou dois de lá que não conseguiam nem andar de tanto medo.
Não sei o que acontece lá dentro, moço, só sei que desde o dia do fogo, ninguém ocupou mais ali. Só quem sobe aquelas escadas apavorantes, além dos idiotas, é o próprio Gominho que passa horas lá."
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